Texto contemplado com 1º Lugar em Poesia
Membrana
Ivan Ferraz Lemke
Minha tarde é um cachorro na sombra
E olhos molhados pelo asfalto onduloso
É uma montanha levantando o braço
Poeira alcançando o branco, cor-camaleão.
De flores cultivadas
Em meus vasos sanguíneos
Vem meu sopro de vida
Que se debanda no ocaso
Bebido com o vento pelas franjas últimas do sol
Sobretudo, o andar é entre pedras e restos maiores
Donde o lábio não regressa, senão, por secura
E a íris, por cegueira.
Donde a voz é tão-somente lastro
E existir: vã guarda.
Os apertos de mão são por entre muros
E mostrar os dentes não significa sorriso.
Das hemorragias restou-me apenas o sangue venenoso
Mas a pele evita que as moscas alcancem meu podre.
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