Ao vencedor, as cebolas
Texto: Ana Ribas Diefenthaeler
Fonte: A Notícia
O casal decidiu ir almoçar fora, naquele sábado meio tédio. Um tempo razoável, até que elejam o restaurante, se arrumem e saiam, meio distraídos, meio desencanados, preocupados apenas em não ficar em casa naquele radiante dia de sol e calor. No caminho, conversam sobre música, seu tema favorito – e, claro, fazem novos planos para a próxima viagem, que ainda nem sabem se será possível…
O restaurante está cheio, muita gente teve a mesma ideia de mergulhar nos sabores do galeto da hoje distante Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Sem problemas. Conseguem uma mesa na varanda e não deixam de reconhecer a gentileza do garçom, ao pedirem as bebidas. Sem álcool, claro, naquele dia lindo, nada de ir para casa dormir após a refeição.
Suco e água de coco à mesa, o marido convida sua dama ao bufê de saladas. Saem conversando baixinho, mas, de repente, o homem para, como se fora mesmo tomado por algum insano espírito, e grita: “Nãoooo!!! Cebolas!!!!”. Ato contínuo, se atraca à delicada salada de cebolas, quase abandonada em um cantinho do bufê, como se fosse um manjar dos deuses. A mulher não quer acreditar, mas o companheiro tem, em mãos, um prato imenso, cheio até as bordas, da tal salada.
O burburinho, claro, já havia se generalizado ao redor deles. Todos queriam ver quem era o adorador de cebolas em cena. Ele, no entanto, não se preocupou com o impacto de sua atitude diante das outras pessoas, voltou à mesa e ficou lá, todo feliz, rolando suavemente o garfo e admirando aquela enorme quantidade de anéis mergulhados em azeite e enfeitados com a verde salsinha.
E seguiram, na boa da conversa, ânimos acalmados em todo o recinto, até que a sofreguidão inicial do homem deu lugar a uma clara desaceleração do ato de degustar a salada. Mas o gaúcho não desiste e segue contando casos e engolindo, agora um a um, os tão cobiçados anéis.
A mulher ainda ria da situação quando o marido acena para o garçom: “Meu bom rapaz, você me traria uma daquelas embalagens para viagem? É que sobrou um pouco da minha salada e quero levá-la para meus gatinhos…” A esposa, entre atônita e constrangida – eles sequer tinham gatos em casa –, pega a bolsa, paga a despesa, entra no carro e deixa o homem lá, parado, com uma quentinha cheia de salada nas mãos. “Ué… O que deu nela? Não podia deixar sobrar este tesouro. Afinal, o quilo de cebola está custando os olhos da cara!”. E lá se foi Salim, a pé, sob um sol escaldante, mas feliz da vida, com sua porção, quase troféu.
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