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 17mar 

Da empresa para a pauta

 

[Artigo do Guilherme, publicado n´A Notícia em 12 de março]

O relacionamento entre empresas e imprensa cresce e amadurece – o que é bom para ambas as partes, mas também, e particularmente, para a alta qualidade do noticiário sobre o setor produtivo disponível no Brasil. Do lado das corporações, o avanço está em reconhecer que não podem prescindir de uma comunicação sistemática e transparente com a mídia, ao encargo de profissionais empenhados em estabelecer, com ela, uma via de mão dupla: fornecem regularmente informações para a pauta e permanecem de portas abertas em uma segunda fase do processo, quando procuradas pelos jornalistas para prestar esclarecimentos adicionais. Ou seja, a empresa já não se limita à rotina de distribuir press-releases (textos produzidos por assessorias para divulgar fatos relevantes), mas investe em um trabalho estratégico e extremamente profissional, repleto de nuances fundamentais para sua eficácia.

Do lado da imprensa, talvez o grande passo esteja em consolidar a importância do empresário como fonte confiável, e da empresa como organismo social em si, o que a torna objeto natural de atenção do público; em outras palavras, foco de notícias. Tese apresentada em 2010, no Mestrado em Jornalismo da UFSC, joga luzes nesse tema ao examinar as estratégias das fontes empresariais nas relações com jornalistas de economia e negócios. O autor, Aldo Schmitz, realizou uma pesquisa que envolveu 71 empresários ou executivos, 92 jornalistas e 277 assessores de comunicação para avaliar como tais atores interagem, tendo a imprensa no epicentro.

Segundo a pesquisa, “dialogar com seus públicos e a sociedade” e “gerir a imagem e a reputação, sua ou da organização” são os objetivos principais dos empresários quando atendem jornalistas. Querem, também, pautar o debate público de assuntos de seu interesse e promover a organização, seus produtos ou serviços. São, todos, propósitos legítimos. Um porém, no que revela o estudo de Schmitz, está no pé atrás do empresariado quanto aconceder entrevista: a maioria reclama que o jornalista faz perguntas impertinentes, deturpa as informações, publica declarações fora de contexto e age como “promotor, juiz e carrasco”. Por conta disso, diz a pesquisa, as fontes medem as consequências do que falam à imprensa. Ao que parece, ainda há arestas a aparar nessa relação.

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