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 19out 

Das loucuras de cada um

 

Texto: Ana Ribas Diefenthaeler

Fonte: A Notícia

Uma amiga me conta o papo nonsense a que foi submetida, dia desses, por um prestador de serviços que esteve em sua casa. Chamado para pintar as paredes da sala de estar, o distinto rapaz se preparava para iniciar o trabalho quando, sem quê nem mais, largou tudo, chegou bem pertinho de minha amiga e disse a ela: “A senhora está vendo o que estou vendo?”. Sem entender a situação, minha amiga fez cara de paisagem. E o rapaz continuou: “Este ser de luz, de mais de dois metros de altura, que está a seu lado.”

Agora, a cara de paisagem cede lugar à de espanto – não pela suposta presença do tal feixe de luz, mas pela insanidade do interlocutor. Ela sorri, meio nervosa, diz que não vê nada e muda de tema. Ele acena que sim com a cabeça e segue narrando a bizarra visão, acrescentando que o ser vinha de um planeta xis – ou Y – e tinha a missão de proteger a cliente e sua família.

É claro que nesse ponto minha queridíssima amiga já estava quase em pânico. O cara falava com tal convicção, chegando a citar as coordenadas cósmicas do endereço do tal planeta, de uma constelação tal, onde, aliás, garantia ele, as crianças já nasciam educadas e disciplinadas porque aquela civilização era muito evoluída.

A dona da casa seguia entre muda e perplexa, mal conseguia menear a cabeça e responder às loucuras do cara com singelos sorrisos. E o cara seguia a reproduzir as falas do tal ET que, agora, já se sentara sobre a lona que protegia o sofá e discorria sobre as diferenças entre as crianças terráqueas e as de seu planeta. Lá, há centenas de milhares de anos-luz, a população se reproduzia mentalmente – se estava na hora de aumentar a prole, os pais se conectavam mentalmente e pariam, instantaneamente, um novo ser. Que, diga-se, já nascia pronto. “Coisa mais sem graça”, riu minha amiga, agora já levando na brincadeira.

Só que o rapaz se ofendeu com a atitude de sua interlocutora. Reiterou que falava muito sério e que as risadas dela fariam com que o seu protetor se retirasse. “Ao menos ele é bonito?”, questionou a divorciada senhora, ainda divertida. O pintor, então, perdeu a paciência. “Não vim aqui para ser zoado”, respondeu, enquanto juntava seu material. Em poucos segundos, acenava para ela do portão, dizendo que nunca mais o chamasse para nada. Minha pobre amiga deixou-se cair no sofá, na esperança ainda de pegar um colinho intergaláctico. Não conseguiu, infelizmente, sentir a presença do tal ser – e, pior, sua sala está até hoje sem pintura.

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