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 23nov 

De amores e trejeitos

 

Texto: Ana Ribas Diefenthaeler

Fonte: A Notícia

Duas moças, em conversa sobre rapazes. Perto, uma velhinha, mais de 90,mas cheia de vitalidade, projetava o ouvido e cérebro na direção das moçoilas que, de entretidas, nem repararam nela. Era um blablablá engraçado. Só que, de repente, disse a primeira, uma morena bonita, ainda bem humorada: “Esta é a hora em que eu confesso”? À frente dela, a interlocutora, loira como uma fadinha de desenho animado, ameaça um palavrão, mas para na metade, instantes antes de arregalar os olhos claros e berrar, a plenos pulmões: “Não acredito! Tu andaste fuçando no meu celular?”.

Neste momento, a velhinha se senta no banquinho da praça, um pouco mais afastada, mas ouvindo plenamente a conversa, que já havia elevado em muito o tom. Então, compreende a situação: as amigas dividiam o mesmo namorado, sem que o pobre soubesse – mas a loirinha decidiu abrir o jogo para o jovem e a morena acabara de saber disso, ao ler as mensagens da amiga para o pretenso amor. E ele crente que estava abafando, com duas belas garotas ao mesmo tempo… “E o nosso trato de levar a situação até o noivado, quem sabe, até o casamento?”, protestava a moça morena, lembrando a amiga das divertidas tardes de que desfrutaram, comentando os encontros com o incauto – rindo muito, ao trocar impressões, as mais íntimas, sobre o jovem e suas qualidades erótico-estéticas. Mas, ao que parecia, a loirinha cansara da brincadeira. “Fiquei com pena dele”, começava a se explicar à amiga que, a essas horas, já estava mais do que furiosa… “Como é possível ter pena de um infeliz feio, pobre e sem graça, que se achava a última bolachinha do pacote porque estava pegando nós duas?” A loirinha não respondeu. Baixou o olhar e disse, apenas, que precisava dar um recado do rapaz. “Ele disse que nos perdoa. E que podemos continuar assim”…

A colega nem pensou duas vezes – deu uma risada irônica, rebolou sobre os altos sapatos, fulminou, outra vez, a agora ex-amiga com o olhar e se despediu: “Não, obrigada. Pode ficar com ele. Pra mim, a brincadeira perdeu toda a graça…” Já batia em retirada quando viu a velhinha no banco, ensaiando uma cara de paisagem. Não teve piedade. “E tu também, velha fofoqueira. Se quiser um homem feio, pobre, sem graça e de pinto pequeno, eu estou doando”. A pobre senhora quase morre de susto. Mas, logo se recupera: “Ah, minha filha, quanta generosidade para com esta solitária viúva há mais de 40 anos. Não sou ciumenta. Pode me dar o telefone do moço?”.

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