De guerras e tréguas
Texto: Ana Ribas Diefenthaeler
Fonte: A Notícia
Outro dia, decidi ficar em casa, em vez de ir trabalhar, e me dedicar um pouco à organização doméstica, já que minha preciosa ajudante teve problemas sérios e se afastou por uns dias. Não, não gosto da rotina de cuidar de uma casa – prefiro usufruir dela, sempre que posso. Mas também estou preparada para essas pequenas emergências, que não me provocam estresse ou depressão porque fazem parte dessa magia que ninguém entende, que é o viver.
Pois, então, estava em casa bem faceira, dividida entre a lida doméstica e a profissional quando, de repente, ouço um barulho de helicóptero. Nem liguei, acostumada aos sobrevoos do Águia, da PM. Só que desta vez, o bicho começou a voar bem baixinho e logo estava exatamente sobre minha casa, provocando uma ventania que me fez lembrar o Vento Norte de minha Santa Maria. Costumava-se dizer que gente magra não se criava no coração do Rio Grande – o Vento Norte levava…
Só que o furor do Águia era bem maior. Sentia tremerem portas e janelas – algumas se abriram sozinhas. As árvores era desfolhadas e se ajoelhavam sob a força do deslocamento de ar. Surpreendentemente, nossos dois lindos labradores, Homer e Bart, permaneceram absolutamente calmos, ao contrário dos pequenos Tom Jobim e James Bond, que, na cozinha, gritavam alucinados.
Eu, imaginando a cena digna de filme policial americano, corri para fechar toda a casa e fiquei espiando pela persiana. No sobrado em frente, a vizinha chega à sacada, fotografa o helicóptero e logo se encerra também. Apoiada no encosto do imenso sofá, sigo tentando ouvir e entender o que se passava. Meu coração, claro, queria sair pela boca, tamanho o susto. Via as lixeiras voando na garagem, alguma sujeira e até retalhos de gesso fluindo do teto, o chão rugindo sob meus pés, pirei…Seria o apocalipse?
Mas logo retomei a lucidez e decidi ligar para a polícia, para saber o que estava acontecendo. A moça que me atendeu, muito gentil, informou sobre um assalto que ocorrera em uma rua próxima. Minha imaginação, a cada minuto mais fértil, já ouvia as vozes dos fugitivos saltando sobre o muro de minha casa… Certamente estariam sob efeito de droga e violentos. Sem dúvida alguma, tentariam me fazer refém…
Passado o pânico, não cheguei a saber se os policiais conseguiram capturar os invasores da loja de móveis que havia perto de casa. Mas fiquei aqui pensando no quanto somos vulneráveis e frágeis, sob a égide do existir, hoje em dia. E o quanto já nos sentimos seguros, tempos outros, ao passear na rua, no parque e mesmo no centro. Bandeira branca, por favor!
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