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 11jan 

De ócios e alegria

 

Texto: Ana Ribas Diefenthaeler

Fonte: A Notícia

Uma das melhores coisas das férias são as pessoas que reencontramos nesses tempos de festas e verão. A vida vira uma saudável bagunça, não temos horários e nem tarefas predeterminadas, todos fazem de tudo, todos são um. E somos todos nós. Chova canivete ou faça um sol escaldante, somos pura solidariedade. Parceiros para jogar canastra, Perfil ou Banco Mobiliário, para brincar de jogar vôlei na praia ou correr ao supermercado quando se adivinham as últimas latinhas no freezer.

Interessante este exercício de comunidade. Um amigo de minha juventude, que se dizia um anarquista convicto, defendia que as pessoas vivessem juntas, em grandes aldeias onde produzissem o que comessem e não precisassem trabalhar além do estritamente necessário para a sobrevivência. Naquela sociedade ideal, não havia dinheiro e nada era de ninguém – tudo era de todos.

Ao contrário dessa sociedade alternativa muito estranha – porque, cá entre nós, não demoraria muito para alguém se cansar ou se acomodar à produção dos parceiros, rompendo o equilíbrio daquela utopia –, as férias compartilhadas por pessoas que se querem bem têm um tempo exato e todos se empenham em desfrutá-lo da melhor forma possível, participando equitativamente das tarefas, dos eventos, das despesas também.

Mas talvez a melhor de todas as características desses encontros entre familiares e amigos seja o esforço que cada um faz para superar as próprias fraquezas. Aquele que é meio ranheta não reclama das crianças que acordam cedo e tocam o terror pela casa; os que têm tendência ao ócio vencem a preguiça e entram de cabeça e coração na fila da lavação da louça e da limpeza da casa; os menos hábeis na cozinha se empenham ao extremo para fazer uma surpresa à turma, preparando um prato especial…

E não, não se trata de tentar ser alguém que não somos. Falo de abdicar momentaneamente de algumas pequenas manias, de velhos hábitos e confortos em favor da maior convivência com gente a quem queremos tanto bem. Isso inclui até mesmo fechar os ouvidos para algum palavrão que a tia meio desbocada não conseguiu conter ou mesmo engolir um deles, para não ferir a delicadeza de uma vovó pouco acostumada a linguagens menos ortodoxas.

Este é um tempo preciosíssimo, em que nos afastamos um pouco de nós e nos aproximamos do outro, entre muita música, churrascos, camarão, cervejas, sol e mar. Porque ao chegar, assim, perto do outro, percebemos o quanto nos é vital ser parte desse conjunto espetacular, feito de gentes e fazeres, de lindas paisagens e afetos edificantes. Não seremos outras pessoas, terminadas as férias. Seremos gente melhor.

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