Em busca de humanidade
Texto: Ana Ribas Diefenthaeler
Fonte: A Notícia
Semana passada fui tomar café da manhã com amigos muito queridos e colegas de trabalho bastante especiais. Sozinho, em uma mesa afastada dos holofotes do lugar, que é muito frequentado por joinvilenses ilustres, um juiz que admiro muito. João Marcos Buch escreve uma notável trajetória como titular da Vara de Execuções Penais e corregedor de presídios da comarca de Joinville. Além de um excelente escritor, com vários livros publicados, e cronista de primeira linha, ele é, antes de tudo, um dedicado profissional, empenhadíssimo no enorme desafio de mudar os ainda muito injustos paradigmas sociais no que diz respeito aos presos e ao encarceramento.
Não são poucos os casos de apenados e familiares que o procuram para agradecer – e ele atende a todos com atenção e sensibilidade. Não raro, relata em suas crônicas casos interessantíssimos envolvendo sua rotina diária de zelar para que as pessoas que têm dívidas para saldar com a sociedade possam fazê-lo com toda a dignidade e com chances de se reintegrar após a pena.
Mas, enquanto Joinville pode se orgulhar de medidas sérias e importantes para humanizar as relações entre presos e sociedade, leio notícias preocupantes envolvendo outros presídios catarinenses. Sei que o problema é bastante grave em todo o País. Sei que a sociedade não tem infraestrutura para cuidar de suas próprias mazelas, e esse é o pior panorama.
Um relatório da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República mostra que auditorias realizadas em agosto do ano passado apuraram condições lamentáveis em cinco unidades prisionais do Estado – em pelo menos uma delas, houve relato de torturas com choque elétrico. Na reportagem veiculada sexta-feira passada, o governo catarinense alega que muitos dos problemas apontados pelo relatório já foram resolvidos. A própria Secretaria de Direitos Humanos admite avanços, mas sugere várias providências.
Não há, claro, como discutir um problema que atinge as vísceras da sociedade em tão poucas linhas. Mas há ao menos dois pontos importantes a destacar: o primeiro é o de que cada cidadão precisa assumir para si o papel de agente social em busca das soluções de que precisa o conjunto a que todos pertencemos. Somos diretamente responsáveis por tudo o que ocorre à nossa volta – se não pela ação, principalmente pela omissão. O segundo ponto é o de que o País precisa de muitos outros João Marcos Buch.
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