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 04mai 

Mudando de assunto…

 

Texto: Ana Ribas Diefenthaeler

Fonte: A Notícia

Eu iria falar de Gal Costa e de como foi emocionante revê-la, muitos anos depois, em Curitiba, dias atrás. Gal continua a mesma, a voz vibrante e cristalina, ácido e verdejante timbre nas naturezas de nós. Gal cantou Lupicínio como poucos – em um espetáculo cuidadosamente pensado e realizado para dar um tom moderno ao velho Lupi, sem alterar a dramaticidade de sua essência. Chorei ao vê-la se desesperar lindamente cantando “Vingança”, um tempo meio torpor, meio êxtase, muito verdadeiro em Lupi.

Eu iria falar de Gal, de Lupi, do bar em Porto Alegre, do lindo hino do meu imortal tricolor, que ele compôs… Iria elogiar, outra vez, aquela mágica voz, que sempre me encantou e que segue impecável nesta mulher de quase 70 anos. Iria comentar até da banda, que achei maravilhosa, da fantástica iluminação e de como o conjunto desses elementos nos reportam ao ambiente meio tango, quase underground, do querido compositor gaúcho – sem caricaturá-lo, sem modernizá-lo em demasia, mas ajaezando cada nova e rearranjada nota de canção.

Iria comentar do quanto percebi de rock e modernos suingues no clima do lindo espetáculo a que assisti no teatro Positivo. Iria comentar, até, das saudades que tive de um tempo que não vivi – mas que continua muito presente quando lembro de meu pai cantarolando “Você sabe o que é ter um amor, meu senhor, ter loucura por uma mulher…”

E, no entanto, só consigo pensar no massacre imposto pelo governo do Paraná a seus professores – mobilizados em frente à Assembleia Legislativa para lutar por seus direitos. E então o País – e o mundo, já que o fato ocupou também os noticiários internacionais – assistiu estupefato a um circo de horrores, com todos os componentes de praxe, do sangue e feridos espalhados pelas ruas às explicações que nada explicaram, de parte do governo. Teve até alguns componentes surreais, como a falsa foto de um policial ferido e um cinegrafista mordido pelos cães da PM.

Sou filha de professora, neta de professora, mãe de professora, irmã de professora e de professor, prima de muitos laboriosos e dedicados mestres, amiga de outros tantos, que nem consigo contar… Vivenciando a luta diária desses profissionais que enfrentam toda sorte de dificuldades para compartilhar conhecimento – e também aprender com essa experiência de vida – não há como compreender as cenas grotescas a que assisti. Uma tristeza e revolta enorme me desmancharam em salgadas lágrimas. “Dona Divergência, com seu archote, espalha os raios da morte”, diria Lupicínio.

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