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 08out 

Quando a comunicação se torna estratégia do outro lado

 

Reflexões produzidas para a disciplina de Assessoria de Comunicação, no Ielusc, pela acadêmica Jaqueline Mello.

Médicos têm fama de desejar ser Deus, jornalistas constroem a fama de ser Jesus Cristo. Alguns dizem ser martirizados, sofrer com a profissão, ter que adivinhar futuras armações contra seu trabalho ou boicotes às suas matérias. Dizem que passam horas nas ruas correndo atrás de informação, conversando com as fontes e, algumas vezes, tentando convencê-las a dizer algo que não querem, ou a liberar uma informação que gostariam de conter. Mas o pedantismo está em todas as profissões e o deixaremos de lado porque o que nos interessa nesse momento é discutir a relação dos jornalistas com as fontes.

Nilson Lage, professor de jornalismo na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), diz que as fontes de informação são treinadas para desempenhar seu papel. Outrora, os jornalistas ouviam funcionários públicos, diretores de empresas, gerentes ou qualquer pessoa que pudesse falar sobre eventos de interesse público. As reportagens eram feitas consultando fontes não institucionais. Os jornalistas tentavam reconstituir a realidade a partir de testemunhos pessoais. Com o tempo, os contatos com instituições passaram a ser feitos por via institucional, muitas vezes por meio de assessores de imprensa.

Mas a desconfiança começava a surgir sobre a veracidade das informações ou liberação destas para sociedade. Lage diz que o incremento das assessorias despertou o receio de que isso pudesse limitar o movimento dos jornalistas e os submeter a uma espécie de censura da informação na origem. Ao contrário, foi o que contribuiu para a profissionalização das fontes. Surgiu a necessidade de treinar as pessoas que seriam responsáveis em transmitir informações sobre empresas e demais instituições. Para, assim, fortalecer a comunicação institucional e evitar futuros problemas causados por uma informação que não deveria ser fornecida, que somente pertencesse à empresa ou que pudesse causar “caos” na sociedade.

As fontes profissionalizadas normalmente liberam apenas a informação que sabem poder liberar. Comunicam à imprensa apenas o que o assessor de imprensa as aconselhou a contar. Claro que, uma vez ou outra, podem deixar escapar alguma informação que seria apenas de interesse da empresa. Nesse momento, cabe ao jornalista balancear essa informação e ver se realmente tem importância social e o que poderia causar à sociedade se fosse publicada. Quando isso ocorre, é a vez do jornalista usar a ética.

O assessor de imprensa também tem o dever de se manter dentro dos padrões éticos do jornalismo, porque ele é também um jornalista, e assim deve primar pela veracidade das informações, a independência, a objetividade e a prestação de serviços. Citado em “As teorias e as fontes”, Adelmo Genro Filho comenta o surgimento das teorias do jornalismo, trazendo Pierre Bourdieu (1997) para a discussão e a articulação com os campos políticos e social que estavam sujeitos às relações comerciais, ações jornalísticas, pressões dos públicos e mesmo aos interesses políticos, sociais ou culturais. Assim, nascem as teorias do agendamento, da produção e da seleção de notícias e, a partir desse momento, as fontes começam a receber treinamentos para interferir no jornalismo, estando cientes do que seria noticiabilidade, questões éticas ou relacionamento com o público.

A fonte que recebe treinamento consegue se comunicar bem com o jornalista, tem desenvoltura e geralmente responde objetivamente ao que o jornalista pergunta, facilitando o trabalho e agilizando o processo de produção das matérias. Quando o jornalista precisa de uma fonte especializada, ele já sabe a quem recorrer, vai geralmente a uma fonte treinada, uma fonte capacitada. Porém, esse treinamento pode dificultar também o acesso do profissional a informações importantes.

O conhecimento da fonte pode bloquear determinadas informações que seriam de interesse público ou a fonte com conhecimento sobre as questões de noticiabilidade, objetividade e interesse público pode usar o jornalista a seu favor para a divulgação de algo de seu interesse e não necessariamente de interesse público.

Em “Jornalismo na Fonte”, Carlos Chaparro fala sobre a necessidade de se organizar e qualificar as fontes. Ele diz: “Um bom assessor de imprensa tem sempre atrás de si, na instituição, um elenco de fontes qualificadas”. Como fontes qualificadas, Chaparro classifica os executivos e especialistas em determinados assuntos. Chaparro acredita que o ideal é manter essas fontes que podem facilitar o trabalho do jornalista, pois, em uma emergência, ele saberá a quem recorrer. Para ele, essa organização não surge de um dia para outro, é preciso que o jornalista mantenha contato com a fonte e que essa esteja disponível quando necessário. Chaparro é a favor do treinamento das fontes para que facilite o trabalho da imprensa.

O jornalista Aldo Schmitz sugere uma divisão das fontes para sua melhor compreensão. Ele as classifica como primárias e secundárias. E as subdivide em oficial, empresarial, institucional, individual, testemunhal, especializada e referencial (documentos). Comenta também que as fontes são proativas, que participam da informação, sugerindo pautas, por exemplo; ativas; que interagem com o jornalista; passivas, que respondem ao que foi perguntado, sem interferir diretamente; e relativa, que não querem se envolver. Também podem ser identificadas ou anônimas. Confiáveis, fidedignas ou duvidosas.

A questão é: a fonte treinada pode tanto auxiliar no trabalho jornalístico quanto torná-lo cômodo, ou a favor da fonte. Caberá ao jornalista perceber quando a comunicação se torna estratégia do outro lado, ou seja, uma estratégia da fonte.

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