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 13out 

Sobre Dias de Criança

 

Texto: Ana Ribas Diefenthaeler

Texto: A Notícia

A morte, em 2008, da menina que foi arremessada do sexto andar de um prédio de classe média em São Paulo mexeu com os brasileiros. A imprensa acompanhou o caso com alarde, o crime foi assunto diária e insistentemente. Mas Isabella morreu em vão. A condenação dos culpados não amenizou a saudade de quem a amava – e, pior, não provocou nenhum tipo de mudança aparente na nossa pauta de referenciais éticos e sociais.

O julgamento do casal Nardoni lançou os flashes sobre a polícia, sobre a família da menina, sobre juízes e jurados, sobre a sociedade… Mas, sobretudo, alimentou em nós essa explicável indignação, tão explosiva como fugaz – e que aparece quase sempre em relação ao que nos é externo. O crime está sempre fora de nós. E precisa ser enjaulado. Essa barbárie nos retroalimenta e nos distancia ainda mais da realidade. Não, não é apenas a realidade da violência. É também a da nossa própria automutilação. Ao acompanhar, opinar, participar de discussões em vários âmbitos sobre um tema desses, por vezes, dilaceramos nossa essência. Em outras, disfarçamos nossa morbidez.

E isso porque casos assim nos remetem ao lado mais abjeto do que queremos crer como a nossa humanidade. Se ficamos atônitos com esses acontecimentos, também ficamos paralisados. Não sabemos o que fazer. E nada fazemos. Deixamos que a justiça se faça – no máximo, nos consolamos com a certeza cristã: se a justiça dos homens falha, a divina não.

E vão se seguindo os casos de Isabella, Joaquim, Alex , Bernardo – mortos por seus pais, padrastos ou madrastas. Sem contar os milhares de outros meninos e meninas agredidos, seviciados, violados em sua dignidade dentro de suas próprias casas.

E o mapa da violência contra a criança é transparente: 70% dos casos acontecem dentro de casa. Assistimos chocados, sim, a esses casos, comentamos e nos indignamos enquanto duram as investigações. Um ano depois, tornamos a nos indignar no julgamento dos responsáveis pela atrocidade. Até que esquecemos do assunto, voltamos à nossa rotina e seguimos o baile – que, às vezes, até inclui ajuda a ONGs e outras instituições de proteção à criança, uma forma fácil de amenizar a dor da consciência.

Duro dizer. Mas se 99% das pessoas jamais teriam coragem para cometer um crime bárbaro, o 1% que o faz, é preciso reconhecer, também é parte de nós. Adeus, crianças. Perdão!

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