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 17ago 

Tocando flauta

 

Texto: Ana Ribas Diefenthaeler

Fonte: A Notícia

Costumo dizer que já nasci gremista. Já contei diversas vezes a história desta paixão – do tempo em que, bem criança ainda, lá na minha Santa Maria, servia de antena humana para que meu pai pudesse ouvir os jogos do Grêmio, pela rádio Guaíba de Porto Alegre. Ficava ali, duas horas inteiras, segurando o fio de antena do velho rádio a luz, enquanto meu pai comentava o jogo, discordava dos lances, narrava junto com Pedro Carneiro Pereira. E eu tinha de ficar ali o tempo todo, nem no intervalo eu tinha folga – meu pai queria ouvir todos os comentários do Lasier Martins e do Lauro Quadros, além das informações do Antônio Augusto, considerado o criador do chamado plantão do estúdio – e que faleceu em abril deste ano.

Daquele tempo, não me recordo de nomes de atletas – mas sim do fato de que o Grêmio acumulava títulos, especialmente estaduais. Foi heptacampeão gaúcho, de 1962 a 1968. Depois, final da década de 60, início dos 70, os campeonatos foram escasseando… Desse tempo, recordo de Everaldo, o Estrela Dourada, que defendeu o Brasil, foi campeão na Copa de 1970 e faleceu em acidente de carro, aos 30 anos, em 74. Da adolescência, alguns nomes permanecem muito vivos em minha memória – Tarciso, Tadeu Ricci, Iúra e Éder, o ponta esquerda que tinha um chute simplesmente mortal. Depois, De Leon, Paulo Nunes, Baltazar…

Retomo essas lembranças em homenagem a meu pai – que foi embora em 2013, sem nunca ter visto nosso amado Imortal fazer cinco gols no arquiinimigo Internacional. Ele assistiu, inúmeras vezes, ao Grêmio campeão gaúcho, brasileiro e da Libertadores. E, naquele inesquecível 1983, em Tóquio, meu pai chorou com o título de campeão do mundo, conquistado em jogo disputadíssimo contra o Hamburgo, da Alemanha – e que teve dois gols do sempre ídolo Renato Portaluppi.

Sem nenhuma dúvida, o histórico 5 x 0 do Grêmio contra o Internacional tinha endereço certo: meu amado guerreiro Francisco, o cara mais brilhante, lúcido e bem-humorado que já conheci, a quem tive a honra e a alegria de chamar de pai.

Mas meu coração, que também bate forte pelo tricolor joinvilense, me segreda que ainda teremos muitas emoções, neste Brasileirão. Ainda quero ver meu JEC levantar, sacudir a poeira, e carimbar a permanência na série A – degrau que galgou com tanto empenho, suor e dedicação, no ano passado, ao ser campeão da série B.

Enquanto a Arena Joinville se mobiliza para isso, vou aqui curtindo a incontestável goleada gremista contra os rivais porque, afinal, como dizia meu pai, não há coisa mais deliciosa na vida que tocar flauta em colorado.

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