Uma revisão histórica do jornalismo empresarial
[Aqui, mais um pedaço da monografia, com o início da revisão blbliográfica sobre a história do jornalismo empresarial]
Na perspectiva de compreender o papel atual da imprensa corporativa, e com a pretensão de refletir sobre o espaço das práticas jornalísticas dentro do ambiente organizacional, aspectos que serão objeto dos capítulos seguintes, é relevante examinar mais de perto a história do jornalismo empresarial – seu surgimento, sua evolução. É consenso entre os autores que se dedicam ao tema vincular as primeiras iniciativas mais concretas do gênero ao século 19, embora tenham existido manifestações semelhantes já no século 16, com “as cartas comerciais que circulavam na Europa”, “consideradas precursoras do jornalismo”, e que poderiam ser tomadas como os primeiros veículos jornalísticos empresariais, de acordo com Cláudia Lemos e Rozália Del Gaudio, em “Publicações Jornalísticas Empresariais” ( “Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia: Teoria e Técnica”, São Paulo, Atlas, 2003, p. 256-285).
No livro “Assessoria de Imprensa: Como se Relacionar com a Mídia” (Editora Contexto, 2005), Maristela Mafei lembra que as publicações empresariais nasceram como produto do fortalecimento da imprensa sindical, a qual, por sua vez, teria surgido em “contraposição aos jornais tradicionais, que não davam a eles [sindicatos] voz suficiente”. A reação da indústria seria “uma tentativa de evitar que as ideias libertárias e revolucionárias cooptassem os operários”. O propósito desses instrumentos é resumido da seguinte forma pela autora: “Promover a comunicação direta entre a instituição e seus funcionários”. Na área governamental, afirma, o precursor dos house-organs – termo que designa as publicações organizacionais, hoje em desuso – foi o The Globe, no governo de Andrew Jackson, nos Estados Unidos. Já na iniciativa privada “um dos primeiros” jornais voltados ao público interno foi o The Triphammer, da Massey Harris Cox, empresa norte-americana, em 1885.
No Brasil, conforme registro de Mafei, iniciativa parecida só viria à luz em 1923, com o Boletim Light, jornal da empresa Light (The São Paulo Tramway Light and Power), em São Paulo. Novamente em uma ofensiva ao avanço sindical, que ganhava corpo naquela década, a partir da chegada de imigrantes italianos e espanhóis, particularmente, estrearia em 1926 uma segunda publicação corporativa na área industrial, a Revista General Motors, na GM do Brasil.
Primeiros registros de atividades com elementos associados ao jornalismo empresarial remontam, de acordo com Francisco Gaudêncio Torquato do Rêgo, em “Jornalismo Empresarial: Teoria e Prática” (Summus Editorial, 3ª edição, 1984), “ao tempo dos primórdios do papel, pois foi durante o domínio da China que se fabricaram as primeiras folhas de papel, através da filtragem das fibras vegetais da amoreira e do bambu”. São daquela época as cartas circulares das cortes da dinastia Han (fundada por Liu Pang, na China, no ano de 202 a.C.), uma fase “de grande progresso econômico e cultural”, quando o comércio da China com o Oriente Médio experimentou intenso crescimento, elevando também a escultura, a pintura e a poesia.
Ainda assim, o autor assinala que “o verdadeiro e definitivo aparecimento do jornalismo empresarial” se deu em tempos mais contemporâneos, por ocasião da revolução industrial, período de “vastas mudanças sociais ocorridas em consequência do rápido desenvolvimento tecnológico registrado na Europa desde meados do século 18 até o início do século 20″. Segundo ele, a origem do jornalismo empresarial teria como cenário um contexto social marcado pela “ruptura de relações entre empregados e empregadores” provocada pela automatização e o crescimento das indústrias. A “divisão do trabalho tornou-se mais complexa” e “gerou uma segmentação interna, com a criação de estruturas separadas”, enquanto “a ampliação das indústrias” acabou “tornando difícil para o operário compreender a sua posição em relação à empresa como um todo”. Diante disso, “algumas pessoas começaram a imaginar que uma das maneiras de solucionar essas contradições internas surgidas no meio empresarial seria a publicação de jornais ou revistas para os funcionários, com o objetivo de familiarizá-los com o ambiente e a própria política da organização e de diminuir as distâncias físicas entre a administração central e a base operária”.
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