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 11ago 

Verdade sem paz

 

Texto: Ana Ribas Diefenthaeler

Fonte: A Notícia

Na faixa entre os 20 e os 30 anos, meninas e meninos estão os donos da verdade absoluta. Sou surpreendida muitas vezes com a quantidade de convicções imutáveis dessa gurizada. Mas isso nada mais é do que o jogo da vida, é o tempo em que se começa a ter maior consciência do nosso entorno, em que as coisas param um pouco de girar apenas ao redor de nosso umbigo. Coisa boa percebê-los engajados, lutadores, solidários personagens de belas histórias.

É um tempo “sem dúvidas”. Mas, que pena, eles têm tantas certezas que se apressam a julgar – e condenar – tudo que os contraria. São ácidos, muitas vezes, com quem não tem as suas mesmas crenças. São certeiros nos petardos contra tudo em que não acreditam. São cruéis, não raramente, com quem não se enquadra em seus referenciais absolutistas de vida.

Na onda natureba e ambientalista em que vivemos, esses meninos e meninas têm sido protagonistas de ataques sistemáticos a quem não age como eles pensam que devamos agir. São maniqueístas e pobres, não raramente, em seus argumentos. Ignoram a história, as crenças pessoais, as verdades de cada um. Atacam por atacar. Vale apenas o que eles acreditam – seja na vida pessoal, na política, nas artes, na forma de ver o mundo, enfim.

O mais estranho é que eles clamam pela paz, mas promovem a discórdia ao ofender, sem razão concreta alguma, as outras pessoas. De novo usando a questão da alimentação como exemplo, dia desses alguém escreveu algo como “aplausos para essas cadelas assassinas que ficam fazendo filhos por aí e depois os matam lentamente com o lixo da indústria alimentícia capitalista”.

Confesso que fiquei pasma com a falta de humanidade da pessoa. Estou longe de defender os nefastos alimentos industrializados, especialmente para crianças pequenas. Nem por isso chamo ninguém de assassino – até porque enxergo no outro o ser livre e autônomo que deveria ser.

Em tempos de bélicas vivências na eternidade do desentendimento árabe-judeu, acredito ainda mais fortemente que não será na guerra que vamos vencer a ignorância. Será na educação, no exemplo, na humanidade da atenção ao semelhante. Será na paz – e essa certeza, das poucas que nos restam, só chega com a feliz idade.

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